Desejo que...

Ame, e amando, seja amado. se não for, seja breve o esquecer

e sem mágoa. Que não seja assim, mas se for, sem desespero.

Que tenha amigos. Mesmo maus e inconseqüentes. Sejam

corajosos e fiéis. Em pelo menos um você confie sem dúvida.

Por ser da vida, tenha inimigos. Nem tantos, nem menos. Exata

medida, para que se interpele sobre suas certezas, e pelo menos

um, seja justo.

Depois, você seja útil. Não insubstituível. Nos momentos

maus quando nada restar, essa utilidade o mantenha de pé.

Seja tolerante. Não com quem pouco erra. Isso é fácil.

Seja com os que erram muito e irremediavelmente.

E sendo tolerante, sirva de exemplo.

Que sendo jovem não amadureça muito depressa.

Maduro não insista em rejuvenescer.

Se velho, não se dedique ao desespero.

Cada tempo tem seu prazer. Cada tempo tem sua dor.

Que seja triste não o ano todo, e sim apenas um dia,

e nele descubra que o riso diário é bom.

O habitual éinsosso e o constante é insano.

Descubra urgente, acima e a respeito de tudo:

que existem oprimidos, injustiçados e infelizes à sua volta.

Afague um gato, alimente um cuco, ouça o joão-de-barro

trinar, triunfante, seu canto matinal, porque assim

se sentirá bem por nada.

Que plante uma semente, por menor que seja. Olhe seu

crescimento e perceba quantas vidas fazem uma árvore.

Tenha dinheiro. É prático. Uma vez por ano, pelo menos,

coloque um pouco na sua frente e diga: “isso é meu”.

Para que fique bem claro quem é dono de quem.

Que nenhum dos seus afetos morra. Por eles e por você.

Se morrer, possa chorar sem lamentar e sofrer sem se culpar.

Por fim, que sendo homem tenha boa mulher.

Sendo mulher tenha bom homem.

Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes.

Quando exaustos e sorridentes que haja amor para recomeçar.

Se tudo acontecer nada tenho mais a lhe desejar.

Adaptação poema de Victor Hugo

Antonio Miranda Fernandes